sexta-feira, 27 de agosto de 2010
TEMA 9 :: De la musique :: LÚCIO KUME
Slow Blues
Um pouco de música — em voz-blues
vez ou outra (. . .) detalhescombros
e alguém, em carne e osso, suor
e dor: lateja (. . .) por socorro.
A tarde se entrega (. . .) — desalinha
aos poucos, um pouco — um morrer de
(...) vagar — nos lábios, um travo antes
cala; esta tarde nossos ossos são ouvidos.
Lúcio Kume, Slow Blues, poesia publicada na revista Brasil Nikkei Bungaku 32, julho/2009.
TEMA 9 :: De la Musique :: APRIGIO FONSECA
Aprigio Fonseca, Do lar (faz dias que não ouço música), 2010, Madeira, arame e cerâmica, 32 x 35 x 18 cm.
Jogo
A linha reta não é a garantia do jogo
Falta a curva para o sentimento se espreguiçar.
Cada método desfaz coleções e traz o espelho do acaso.
Não se largue na geometria de Descartes, nem no tédio de Baudelaire.
Sinta no perfume do mais sutil toque a insensatez do tempo,
Vire-se para o azul e mantenha seu pacto com Picasso.
A vida se estende para quem ousa e se mede com os olhos.
Antonio Paulo Rezende, Jogo, 2010, poesia.
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TEMA 9 :: De la Musique :: JACQUES JESION
Jacques Jesion, Ponto e Som Sobre Plano, 2010, animação e som digital.
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010
TEMA 8 :: Ruídos de fundo :: LÚCIO KUME
RUÍDOS DE FUNDO: UM ESBOÇO
Não se fazem salões de arte a priori. Suas qualidades (ou defeitos), quase sempre, estão além do seu modelo. Um salão é sempre uma incógnita. Repousa num tácito acordo: de um lado, os artistas-candidatos e suas obras; de outro, uma banca selecionadora e seus juízos. Sobretudo, esta terá um papel de divisor de águas ao conferir seus trunfos e limites estabelecendo um ordenamento estético hierárquico. Por outro lado, construir estes recortes —esta justificação estética— é uma tarefa problemática, mais ainda, tendo como pano de fundo recorrente, a questão do que é arte hoje no quadro da atual (e nem tão atual) crise das idéias estéticas.
O contemporâneo em arte é uma questão aberta, uma categoria a se construir. Não é o mero reconhecimento de toda e qualquer produção artística e cultural de nosso tempo. Sua abordagem, no entanto, implica dificuldades. O que chamamos "a jornada da contemporaneidade" termina por dissolver qualquer rigor conceitual; torna-a uma noção avessa à definição uma vez que o critério de contemporâneo se escora basicamente na temporalidade.
Porém, pensar o contemporâneo interessa aos artistas. O compromisso com o seu tempo pressupõe ocupar esta zona sufocante e sitiada, este ubíquo "lugar nenhum" onde se dão as condições de enunciação das diversas concepções estéticas (muitas vezes conflitantes) no contexto do mainstream cultural vigente. O discurso da imagem (e do olhar) não é inocente. De todo modo a leitura de qualquer obra (ou o próprio passado), vale lembrar, é feita sempre com os olhos de hoje, condenados que estamos a um olhar contemporâneo.
No plano da linguagem, o universo da arte contemporânea é pluralista e comporta a utilização intensiva de novos meios, suportes e materiais; também comporta ações antiarte, intervenções urbanas, além de incorporar exercícios de linguagem retrô tão ao gosto dos pós-modernos. Em nome da sua voracidade, "vale tudo" pantagruélico, a arte contemporânea muitas vezes é chamada de "qualquer coisa". Impactada pela ação imperativa das mídias eletrônicas de massa; outras vezes contaminada pela ação do marketing; a paisagem artística contemporânea extrapola a dimensão do estético. Sua interface com as esferas não artísticas (tais como, a política, a filosofia, a sexualidade, o multiculturalismo etc.) é recorrente e controvertida e o peso do contexto histórico e social, essencial e imediato.
Outro ponto controverso é o papel exercido pelo mercado de arte na legitimação dos bens artísticos. Ainda que o mercado de arte junto à cena contemporânea brasileira seja incipiente, fruto talvez da própria situação periférica do país na ordem capitalista globalizada; e, apesar da abertura ao capital externo, ainda estamos imunes à presença destes agentes (em que pese a participação de alguns artistas brasileiros no circuito internacional de arte). Por outro lado, fortes mercados de arte propiciam, às vezes, situações insólitas: a relação simbiótica entre artistas e marchands e/ou colecionadores na produção de obras esteticamente criativas, ditas não comerciais (tipo happening, site specific etc), reforçando o vínculo recíproco de "marca" (agregando valores aos seus respectivos capitais de reconhecimento) associado a diversos produtos como catálogos, livros de arte, obras em papel etc.
Pensar sobre a prática atual da arte e sua irrelevância social leva-nos a remexer as velhas razões de sempre numa permanente revisão crítica. Contudo já vêm de longa data e não constitui novidade os resquícios desse desajuste entre o artista e a sociedade do seu tempo.
"Um artista é um mediador entre o mundo e as mentes; um crítico apenas entre mentes. Um artista deve, portanto, ainda que às custas da estranheza e alienação do cenário cultural contemporâneo, manter sua aliança com o mundo e uma relação fervorosa com ele." (John Updike)
Lúcio Kume, Ruídos de fundo - um esboço, 2005, texto publicado no catálogo do 33o Salão Bunkyo de Arte Contemporânea 2005, São Paulo.
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